quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Crítica de Esquadrão Suicida

Todo diretor de cinema parece a pessoa mais miserável do mundo às vésperas do lançamento de um filme seu. David Ayer além de abatido pelo processo de finalização do longa da equipe de vilões da DC, estava estranhamente resignado: seu lugar de preferência é no set, ao lado de atores, e ele diz que a montagem de Suicide Squad foi particularmente difícil.

Sem entrar no mérito das refilmagens e das mudanças de tom que acompanharam toda a divulgação do filme - que parecia um Seven com supervilões no trailer da Comic-Con de 2015 e depois de Deadpool ganhou uma cara muito mais cartunesca - a primeira meia hora de Esquadrão Suicida evidencia essa dificuldade da montagem. Cartelas animadas e canções se sobrepõem para tentar dar conta da apresentação dos personagens e instilar no filme um dinamismo pop, mas o começo é apressado e truncado, como na cena do eletrochoque com o Coringa, incompreensível do ponto de vista da continuidade. Também nas entrevistas, Jared Leto nos disse que muito material do palhaço ficou de fora, e é visível que esse início de filme passou pelos cortes mais pesados.

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Pode parecer uma questão menor dentro da lógica de todo blockbuster - mais preocupados em oferecer cenas de ação a cada 20 minutos do que a estabelecer arcos de personagens - mas a partir do momento em que Esquadrão Suicida queima a largada, oferecendo de forma automatizada um par de flashbacks de origem sem um senso de criação de expectativa ou de revelação, tudo o que vem depois passa a soar igualmente desobrigado de envolver o espectador. A missão logo se apresenta para o grupo recém-formado de vilões - depois de uma ou duas viradas também ligeiras envolvendo Magia (Cara Delevingne, à vontade na sua releitura de Sigourney Weaver possuída em Caça-Fantasmas) - e Ayer termina fazendo uma longa cena de batalha com uma hora de duração e as mesmas ameaças de destruction porn que Marvel e DC aprenderam com Michael Bay e Roland Emmerich.

Assim como em Corações de Ferro, o superestimado longa anterior de Ayer, o filme joga tudo na ideia de que, em meio à ação, uma química brotará entre os protagonistas e será capaz de desenvolver espontaneamente esses dramas que no fundo podem ser bem densos, especialmente o da médica enlouquecida por uma relação abusiva. Embora se veja condicionada a um texto mais dedicado aos momentos cronometrados de alívio cômico - fazer de Esquadrão Suicida um filme que se propõe sério mas não tão sério assim - Margot Robbie consegue dar à Arlequina alguma vida própria. Já o Coringa tarado de Leto, mistura de Voldemort com Tony Montana, não tem espaço para crescer embora insista em aparecer no filme todo, e termina mais inconveniente do que perigoso.

Robbie não é o único destaque; as mulheres especialmente se sobressaem, e Viola Davis cria uma Amanda Waller que faz justiça à força que a personagem tem nos quadrinhos. São vitórias pontuais, porém. O mais frustrante de tudo é a sensação de oportunidade mal aproveitada. Esquadrão Suicida tinha, talvez até mais do que Deadpool, o potencial de oxigenar os filmes de super-herói, com personagens escolhidos a dedo na excelente galeria de vilões de Batman, mas David Ayer não encontra um tom para seu filme de início, depois desiste francamente de procurar, e termina se contentando com as soluções mais burocráticas do gênero.

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