segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Pokémon GO no Brasil: Como foi o primeiro dia do jogo no país

A febre de Pokémon GO no Brasil já era mais do que esperada. Desde os pedidos desesperados nas redes sociais, os protestos que levaram à invasão da conta do criador do game no Twitter ao lançamento oficial do jogo no país, na última quarta-feira (3), alcançando o topo da AppStore em menos de um dia, era de se imaginar que o jogo teria, aqui, o mesmo sucesso encontrado lá fora. Mas e nas ruas do país? Como seria a recepção?

Para responder a esta pergunta, aguardamos, como muitos, o raiar do Sol (o jogo chegou aqui às 18h da quarta) para embarcar na nossa própria jornada Pokémon. Andei pelas ruas de São Paulo e a resposta é: sim, Pokémon GO é uma febre. Em toda a capital paulista, vários grupos se juntaram espontaneamente para jogar. Foi muito fácil encontrar pessoas de todos os gêneros, idades e estilos nas ruas, com um comportamento aparentemente duvidoso frente à tela do celular, procurando seus monstros.

Nossa jornada começou por volta das 9h30. Como a Niantic já afirmou que os monstros têm mais possibilidade de serem encontrados e parques e em pontos turísticos, fui ao local que junta as duas características: o Parque do Ibirapuera. No caminho, dentro de um Uber (nunca jogue ao volante!) liguei o aplicativo na esperança de achar mais monstros, aproveitando o movimento do carro, mas só encontrei Pidgeys e Zubats - os tipos mais comuns na rua.

A aposta no Ibirapuera deu certo: logo na entrada do portão 9 do parque encontrei um Eevee, um Goldeen e um Paras. A janelinha de monstros próximos acusava a presença de mais monstros que ainda não havia encontrado até então: Geodude, Staryu e um Bulbasaur. Procurei um bocado, mas o inicial de grama não deu as caras.

Observando o parque, era fácil observar que algo estava diferente. Além dos habituais corredores e ciclistas, um terceiro tipo de pessoa era bem comum nas pistas e gramados do parque: pessoas andando com a cabeça baixa, olhando para a tela do celular. Olhei de relance para a tela quando pude; em quase todos os casos, era Pokémon GO. Na maioria das vezes, nem era necessário bisbilhotar: quando duas pessoas ou mais estava com o celular na mão, a conversa invariavelmente era algo como “capturei um Zubat com 150 CP” ou “tô quase evoluindo meu Pidgey”.

O mais surpreendente, entretanto, veio quando me aproximei do Planetário do Ibirapuera, que no game, é um ponto com quatro pokéstops adjacentes. Nas quatro, foram colocados Lure Modules - itens que servem para atrair monstros para a pokéstop - e, com isso, cerca de 15 pessoas estavam por ali, sentadas ou andando em círculos, olho fixo no smartphone, o polegar se arrastando de baixo para cima da tela.

O problema de Pokémon GO

No meio do caminho, me deparei com o principal problema que aflige o jogador de Pokémon GO: a bateria do celular. O uso do jogo no carro a caminho do parque e no local fizeram a energia do smartphone despencar de 100% a 10% em pouco menos de uma hora e meia de uso. Depois que o celular apagou, perambulei pelo parque até achar uma tomada em uma lanchonete, e passei 40 minutos esperando o aparelho voltar a um nível seguro de bateria. Lá, tive um encontro inusitado: o entregador da lanchonete estava jogando Pokémon GO e imediatamente começamos a bater papo.

“Peguei uns três ‘Bulbassauro’ já. Estou aproveitando as minhas entregas e o caminho de ônibus pra capturar mais”, me contou o entregador, também reclamando que o celular gasta muita bateria. “Vou voltar aqui no fim de semana com meu amigo pra capturar mais”, finalizou. O local da lanchonete, próximo à Praça da Paz, também é um bom lugar para encontrar monstros - por lá, peguei um Tangela e um Doduo. Um Squirtle estava por perto, mas, infelizmente, não apareceu para mim.

Voltei ao Planetário e encontrei o local ainda mais povoado por treinadores. Agora, eram mais de 50 pessoas ao redor dos pokéstops, esperando pelos monstros que se aproximavam. Como estava cada vez mais claro para todos que só havia jogadores por ali, todos começaram a socializar. Pessoas que não se conheciam trocavam ideias sobre o jogo - e sobre a vida. “Onde você pegou esse Doduo aí?”, “Achei um Nidoran!”, eram comuns, mas daí a algum tempo alguns até começaram a falar de videogame em geral. “Mega Man X é f…”, relembrava um nostálgico usuário de Pokémon GO com o celular na mão.

Até mesmo paradas casuais no parque para capturar pokémon atraíam outros jogadores. À beira da Fonte do Ibirapuera pareceu um Dratini. Enquanto arremessava inúmeras pokébolas para capturar o raro e arredio tipo dragão, outro jogador apareceu, sem firulas: “É o Dratini?”. Passamos 15 minutos trocando dicas sobre locais onde havia monstros mais raros no parque, e falando sobre o jogo em si - ele se queixou da falta de batalhas e de ginásios ocupados por treinadores com um nível praticamente impossível de se conseguir em tão pouco tempo de jogo no Brasil.

Por volta das 12h, decidi sair do Ibirapuera e ir até a Avenida Paulista, na esperança de encontrar mais pokémon. A primeira parada foi em uma loja de acessórios para celular próximo à estação Brigadeiro, para adquirir um inevitável carregador portátil. Embora existam jeitos de economizar energia, como diminuir a iluminação do celular ou baixar os mapas no Google Maps (de quem Pokémon GO compartilha a base de dados), o game ainda exige muito da bateria do celular e este acessório se torna indispensável em sessões prolongadas de jogo, como foi o caso.

Bateria portátil comprada e equipada, coloquei-a na mochila e o celular no bolso, pronto para continuar minha jornada. Na saída, um dos funcionários que tenta atrair pessoas para uma barraca se aproxima. “Precisa de assistência no celular?”, ele pergunta. Recuso. “Precisa de assistência no pokémon?”, ele retruca. O melhor d
o Brasil definitivamente é o brasileiro.

Um fenômeno social


Andando por uma das ruas mais movimentadas da cidade mais populosa do país é que se tem mais noção do tamanho do fenômeno de Pokémon GO. Entre a multidão que se deslocava pelas largas calçadas da Paulista, inevitavelmente alguns grupos passavam com a cabeça baixa, olhando para o celular, arrastando o dedão na tela.

Mas, talvez, uma das provas mais inusitadas do tamanho do fenômeno podia ser medido pelo fato de o jogo ser assunto até entre quem não estava jogando, e não se tratava apenas de curiosos tentando observar quem jogava. “Meu amigo diz que achou um Blastoise perto da casa dele”, ouvi enquanto entrava no parque Trianon (que também estava lotado de treinadores e monstros - por lá, peguei um Cubone).

O fenômeno Pokémon GO é algo para ser estudado por muitos meses, mas seu fenômeno é comprovado pelo sucesso do jogo nas ruas. A diversidade de pessoas que estão capturando monstros nas ruas, seja por serem fãs da franquia, seja para conferir do que se trata todo esse alvoroço, é algo que transcende - e muito - o público padrão de um game.

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