domingo, 7 de agosto de 2016

Quando o cinema sobe ao pódio

Os Jogos Olímpicos desembarcam no Rio de Janeiro e a gente relembra o quanto as suas histórias de superação já inspiraram grandes histórias na Sétima Arte.

Com ou sem privadas entupidas, delegações reclamando e cangurus na porta da Vila Olímpica, uma coisa não dá pra negar: a Olimpíada tá chegando ao Rio de Janeiro e, bom, que o resto do mundo não repare na bagunça, como diz o meme.

Hollywood – e talvez, vamos combinar, o cinema como um todo – ama grandes histórias de underdogs, aquelas pessoas nas quais ninguém acredita, ninguém bota nenhuma fé e que, do nada, conseguem se superar e alcançar aquele objetivo inimaginável. E não tem jeito melhor de contar uma história como esta do que tendo o esporte como plataforma, não é?

Se acompanhar as disputas não é muito a sua praia, vasculhamos alguns filmes indispensáveis — e outros nem tanto, mas que são diversão garantida, afinal de contas — que de alguma forma estão relacionados ao clima dos jogos, mostrando que cultura pop e Olimpíadas, vejam vocês, também têm muito em comum.

Que os jogos comecem!

Olympia (1938)
O primeiro documentário sobre Olimpíadas da história, no qual a cineasta Leni Riefenstahl, propagandista do governo nazista de Adolf Hitler, documenta os Jogos Olímpicos de Verão de 1936. Além das técnicas cinematográficas consideradas pioneiras para a época, a sua importância se dá especialmente pelo poderoso registro da vitória do velocista Jesse Owens, diante de um Hitler visivelmente puto da vida.

Raça (2016)
O filme é uma biografia de Jesse Owens, que não só humilhou Hitler, como ganhou quatro medalhas de ouro em Berlim. No original, o título tem duplo sentido: Race, de corrida, e Race de Raça, o título nacional, que essencialmente guiou sua vida e carreira.

Berlin 36 (2009)
Outro filme alemão sobre a Olimpíada de 1936, em Berlim, só que desta vez uma ficção. Mas, aqui, a produção se foca na vida da atleta de salto em altura Gretel Bergmann. Judia em plena Alemanha nazista, ela é obrigada a fugir para a Inglaterra. Mas o Comitê Olímpico Internacional e os EUA forçam o governo de Hitler a aceitar os atletas judeus na competição, em especial Gretel, de fama internacional. O grande problema é que a vitória de uma atleta judia, por mais que seja em nome da própria Alemanha, poderia ser uma grande humilhação para o partido. Então, se inicia um plano para quebrar o seu espírito, destruindo sua autoestima. Uma das armas contra ela é justamente sua colega de quarto e parceira de equipe, Marie Ketteler... que, na verdade, é um homem e a principal esperança dos nazistas para conquistar a medalha de ouro em seu lugar. Mas um laço de amizade acaba se formando entre Gretel e Marie, apesar dos esforços do regime.

Pateta nas Olimpíadas (1942)
Um clássico filme do Pateta, um clássico da Disney, um clássico olímpico. Começa com o revezamento da Tocha e termina com o melhor personagem criado por Walt Disney explicando diversos esportes. :)

O Homem de Bronze (1951)
Baseado na história real de Jim Thorpe, interpretado por Burt Lancaster. Atleta completo em diversas modalidades, foi para a Olimpíada de 1912 e trouxe pra casa a vitória tanto no pentatlo quanto no decatlo, uma verdadeira façanha. Mas foi só descobrirem que, em certo verão, ele recebeu uma quantia insignificante para jogar beisebol em uma equipe, que todas as suas medalhas lhe foram arrancadas: naquela época, era preciso ser considerado amador para ter o direito de competir olimpicamente.

Os Amantes do Perigo (1969)
Baseado no livro The Downhill Racers, escrito por Oakley Hall, o filme trata de um jovem e arrogante esquiador talentoso (Robert Redford) que se junta à equipe de esqui dos Estados Unidos na Europa para competir. Rapidamente, o cara se torna a maior esperança de medalha do país na Olimpíada de Inverno, por mais que bata de frente com os colegas de equipe e com o próprio treinador, aqui interpretado por Gene Hackman.

Os Jogos (1970)
Baseado no livro de mesmo nome de Hugh Atkinson (The Games), mostra as quatro diferentes histórias e motivações de maratonistas se preparando para os fictícios Jogos Olímpicos a serem disputados em Roma. São eles um inglês, um americano, um tcheco e um aborígene australiano. Detalhe curioso: quem interpreta o corredor tcheco Pavel Vendek é ninguém menos do que Charles Aznavour, cantor que é considerado o “Frank Sinatra da França”.

Uma Janela Para o Céu (1975)
O ano era 1955. A jovem Jill Kinmont era a campeã nacional de slalo e era facilmente vista como virtual medalhista de ouro na Olimpíada de Inverno que rolaria um ano depois. Mas então, semanas antes de completar 19 anos, a garota sofre um gravíssimo acidente em uma competição. Logo, ela se tornaria tetraplégica e teria que usar uma dose extra de determinação e coragem para começar a sua vida do zero. Mais um drama intenso inspirado em uma história que a gente não gostaria que fosse real... Mas é.

Maratona Final (1979)
Um daqueles filmes que tem muito a cara do seu diretor, no caso, um tal de Michael Mann. Rain Murphy (Peter Strauss) é um sujeito sentenciado a passar a vida na cadeia, optando por viver praticamente isolado do restante dos presos e praticando corrida de longa distância toda vez que tem algum tempo livre. Sua velocidade chama a atenção dos oficiais da prisão, que acham que ele poderia conseguir índice para a Olimpíada. Inicialmente desinteressado na proposta, ele acaba topando em memória do único homem que ele considerava seu amigo atrás das grades, gerando profundas mudanças não apenas nele, mas também na atmosfera da penitenciária.

A Menina de Ouro (1979)
Ficção científica com Olimpíadas? Sim, temos. Serafin, um cientista simpatizante dos ideais do nazismo, descobriu um jeito de criar um ser humano fisicamente superior. E aí começa a testar este combo de vitaminas e hormônios em sua própria filha adotiva, Goldine, desde a infância. Quando ela está grande o bastante, ele resolve que vai fazer com a jovem um teste definitivo: correr na Olimpíada de Moscou. Para subsidiar o futuro de sua filha, o camarada barganha com um grupo de homens de negócios, liderado pelo especialista em merchandising Dryden. Mas talvez a experiência tenha resultados, digamos, inesperados...

As Parceiras (1982)
Primeiro filme dirigido por Robert Towne, o homem que escreveu Chinatown, considerado uma verdadeira aula de roteiro para cinema. Fala sobre um grupo de mulheres tentando se qualificar para a Olimpíada de Moscou, em 1980, auge da Guerra Fria. Apesar de seu compromisso ao intenso regime de treinamentos, os EUA resolvem boicotar os jogos por razões políticas, fazendo com que apenas as marcas pessoais entre elas sirvam como impulso para continuar seguindo em frente. Além disso, muitos críticos afirmam que a produção também acerta ao mostrar de maneira delicada a relação amorosa entre duas atletas, vividas por Mariel Hemingway e por Patrice Donnelly (no caso, uma atleta na vida real também).

Carruagens de Fogo (1981)
Talvez aquele que seja o primeiro nome no qual se pensa ao mencionar “filmes sobre a Olimpíada”. Vencedor de quatro Oscars em 82, incluindo “melhor filme”, trata da adaptação da história real de dois corredores que disputaram as provas de velocidade pelo time da Grã-Bretanha durante os jogos de Paris, em 1924: Eric Liddell, um cristão devoto que busca a glória em nome do Senhor; e Harold Abrahams, judeu que deseja apenas fugir do preconceito crescente contra os seus. A coisa que não dá MESMO pra esquecer é a música-tema, composta pelo hoje lendário músico grego Vangelis.

Running Brave (1983)
Outra história real sobre um indígena que foi lá e, apesar das dificuldades, mostrou a que veio. Billy Mills (Robbie Benson), saído da reserva Oglala Sioux, embarcou desacreditado para a Olimpíada de Tóquio, em 1984, e voltou pra casa com a medalha de ouro dos 10.000 metros. Na pista da prova, duríssima por sua longa duração, Billy foi deixando todo mundo pra trás e enfim conseguiu alcançar a primeira posição.

Nadia (1984)
Produzida diretamente para a TV, vale conferir esta biografia da atleta romena Nadia Comăneci, um dos maiores fenômenos olímpicos de todos os tempos. Em 1976, aos 14 anos de idade, a ginasta se tornou a primeira mulher a conseguir um 10 perfeito na Olimpíada. Na verdade, naquele ano, a garota saiu com sete notas 10, três medalhas de ouro, uma de prata, uma de bronze e se tornou uma celebridade instântanea em seu país e no mundo. Só que a pressão acabou sendo demais para que ela suportasse...

Jamaica Abaixo de Zero (1993)
Pequeno clássico do gênero, uma comédia deliciosa inspirada na história verídica da estréia da equipe de bobsled nacional da Jamaica nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1988, no Canadá. Vindos de um país conhecido por seu ensolarado clima tropical, obviamente os caras acabaram desacreditados por se meterem a deslizar com seu trenó pela neve, mas claro que provariam o contrário... Tudo rolando ao som do single I Can See Clearly Now, de Jimmy Cliff.

Prefontaine (1997)
Muito antes de sair mandando camisinhas usadas e roedores mortos para seus colegas de elenco, Jared Leto interpretou o atleta Steve Prefontaine, velocista de longa distância que enfrentou a adversidade para disputar os trágicos jogos de 1972, aqueles de Munique. O longa retrata a sua relação com o treinador Bill Bowerman (R. Lee Ermey), o homem que anos depois seria um dos co-fundadores da Nike. Prefontaine morreria jovem, aos 24 anos, depois de um acidente automobilístico, justamente quando iniciava um trabalho como ativista para que os atletas surgidos nas universidades dos EUA tivessem mais incentivos para a profissionalização.

Prova de Fogo (1998)
Outra produção biográfica, outra a respeito de Steve Prefontaine – e que, com produção de Tom Cruise e roteiro/direção de Robert Towne (que já está nesta lista, conforme você deve ter visto alguns itens acima), eclipsou completamente a outra película, lançada um ano antes, por mais que ambas sejam bem interessantes e bem conduzidas. Aqui, temos Billy Crudup como o atleta e Donald Sutherland no papel de seu treinador. Foi a segunda parceria “olímpica” entre Towne e Kenny Moore, produtor que foi amigo pessoal de Prefontaine.

Munique (2005)
É menos um filme sobre atletas superando limites e mais sobre uma tragédia que aconteceu em 1972, durante a disputa esportiva que rolou na cidade alemã que dá nome ao filme. Dirigido por Steven Spielberg, trata de um grupo de agentes secretos do governo israelense enviado para encontrar os integrantes da chamada Organização Setembro Negro, grupo terrorista palestino responsável pelo sequestro e morte de 11 atletas de Israel em um atentado naquele ano.

Munique, 1972: Um Dia em Setembro (1999)
Documentário vencedor do Oscar em 2000 narra (com a voz de Michael Douglas) como foi o dia 05 de Setembro de 1972, quando os 11 atletas israelenses foram assassinados.

Salute (2008)
A cena é clássica. Durante a premiação dos 200m livre da Olimpíada de 1968, na Cidade do México, dois homens negros levantam seus pulsos, usando luvas negras. O filme conta um pouco da história do ato, através do olhar de Peter Norman, australiano segundo colocado na prova, que não só apoiou a manifestação, como sugeriu a divisão de luvas e acabou sendo reprimido pelo seu país natal e relegação ao ostracismo na mídia de lá.

Asterix nos Jogos Olímpicos (2008)
Nos quadrinhos, Asterix nos Jogos Olímpicos saiu em 1968, pra coincidir com os jogos do México, e foi traduzido pro inglês em 1972, pra coincidir com os jogos de Munique e, atual o suficiente, focava e satirizava o doping. O filme não tem muito a ver, nesse sentido, mas vale pela galhofa — além de ter sido o filme francês mais caro de todos os tempos, na época. :)

Invencível (2014)
Drama biográfico produzido e dirigido por Angelina Jolie, baseado no livro de Laura Hillenbrand, Unbroken: A World War II Story of Survival, Resilience, and Redemption. O título quilométrico do livro original já entrega a alta carga de sofrimento que vem a seguir: a história de Louis “Louie” Zamperini, atleta olímpico dos EUA que, anos depois de correr representando o seu país, vai parar na Segunda Guerra Mundial, servindo como piloto de um bombardeiro que ataca a ilha de Nauru, mantida sob controle do Japão. O avião é derrubado, cai no oceano e Louie sobrevive durante 47 dias em uma balsa, para depois ainda ser enviado a um campo de prisioneiros de guerra.

Voando Alto (2016)
Comédia inspirada na vida de Michael “Eddie” Edwards, batizado pela mídia de Eddie The Eagle, praticante de salto com esqui e que, em 1988, tornou-se o primeiro representante da Inglaterra na modalidade em Olimpíadas desde o ano de 1929. Tem um tom de Jamaica Abaixo de Zero, na questão de ser um sujeito absolutamente desacreditado e nas divertidas interações com o treinador improvável, Bronson Peary (Hugh Jackman) – que o próprio Eddie já confirmou, aliás, ser um personagem fictício.

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