quinta-feira, 21 de julho de 2016

Sete Minutos Depois da Meia-Noite: quando um monstro com a voz do Liam Neeson chama

O mundo do entretenimento, claro, deu uma piradinha de leve quando a Disney anunciou O Bom Gigante Amigo, primeiro trabalho de Steven Spielberg como diretor para a casa do Mickey Mouse e ainda adaptando uma obra de Roald Dahl, o escritor original de A Fantástica Fábrica de Chocolate.

Assim que saíram os primeiros vídeos, tudo pareceu muito bem-executado, conto de fadas, aquela história toda. Mas, hum, não sei. Faltava algo. Talvez um pouco mais de coração? O ponto é que não chegou a me convencer além do “ah, legal, vou ver em algum momento”.

E aí que, então, surge outro gigante, também amigo. Este bem mais vegetal e, vamos lá, com uma cara bastante assustadora num primeiro momento. Encheu os meus olhos de cinéfilo assim que saiu o primeiro trailer. E encheu os meus olhos de pai (com lágrimas, inclusive) assim que saiu o SEGUNDO trailer. E o tal monstrengo quase que saído de uma versão macabra da obra do Tolkien ainda tem a voz do Liam Neeson, cara!

O resultado? A frase “preciso ver isso” saltou imediatamente da minha cabeça pra minha boca. E depois que escrevi este texto e vi o vídeo mais uma vez, a palavra “AGORA” chegou para complementar a sentença. O nome do tal do filme é Sete Minutos Depois da Meia-Noite (A Monster Calls, no original em inglês).



A história fala sobre Conor O’Malley (Lewis MacDougal), 12 anos, que está lidando ao mesmo tempo com a doença terminal que ACOMETE sua mãe (Felicity Jones) e com os ataques constantes do valentão local da escola, Harry (James Melville). A vida do moleque muda quando ele passa a ser visitado por um monstro gigantesco (o que tem a voz do Liam Neeson, no caso), feito de folhas e gravetos e formato humanoide, que representa seus próprios sentimentos de frustração, medo, raiva e impotência. E, claro, vira completamente do avesso quando ele acaba indo para a casa de sua avó (Sigourney Weaver), onde ambos terão que se conhecer melhor e se apoiar, apesar das diferenças entre eles.

A direção é do espanhol Juan Antonio García Bayona, mais conhecido como J. A. Bayona, que Hollywood conheceu, sob a batuta de Guillermo Del Toro, depois da direção do fantástico terror O Orfanato. O cara ainda seria responsável pelo contundente O Impossível, reconstrução da história do tsunami que devastou a costa asiática em 2004, deixando mais de 230 mil mortos. Devidamente escalado para dirigir a continuação de Jurassic World, o quinto filme da franquia jurássica, depois de sair do cargo de responsável pela sequência de Guerra Mundial Z, ele parece estar novamente à vontade numa película que tem todo o jeitão (esteticamente, inclusive, o que é um PUTA elogio) de Del Toro.

O filme é baseado no livro de fantasia infantil de mesmo nome, publicado originalmente no Reino Unido em 2011, escrito por Patrick Ness e com ilustrações de Jim Kay (artista britânico conhecido pelas edições ilustradas dos livros de Harry Potter). Aliás, o próprio Ness é responsável pelo roteiro final da versão para cinema. Este ano, é a sua segunda INCURSÃO no mundo audiovisual, já que ele também está cuidando dos roteiros de Class, série em oito episódios que é um spin-off de Doctor Who a ser exibido pela BBC Three e que será ambientado na chamada Coal Hill Academy, escola bastante conhecida dos fãs da série.

Mas, é bom que se lembre, o roteiro escrito por ele para este A Monster Calls já tinha entrado na chamada Black List de Hollywood em 2013, como um dos 72 melhores roteiros ainda não-produzidos, de acordo com votação de mais de 250 executivos de estúdios.

Sabe quem estava na mesma lista e no mesmo ano? Um tal de Spotlight, conhece? ;)

Originalmente, a ideia por trás do livro partiu da ativista e autora inglesa Siobhan Dowd (de A Carne dos Anjos, romance baseado numa história real sobre a morte de dois recém-nascidos em uma aldeia irlandesa). O ponto é que Dowd já estava em estado terminal, vítima justamente de um câncer de mama bastante agressivo. A trama foi discutida com sua editora, Denise Johnstone-Burt, da Walker Books, e rapidamente ela conseguiu negociar para que Ness cuidasse de transformar o conceito em realidade.

O autor já era conhecido por seu trabalho para o chamado público young adult, aquele mesmo que devora Jogos Vorazes, tendo escrito a série de livros batizada de Mundo em Caos (Chaos Walking), que se passa em um mundo distópico no qual todas as criaturas vivas podem umas ouvir os pensamentos das outras, em uma rede de imagens, sons e palavras chamada Ruído. Patrick Ness aceitou a missão. “Siobhan tinha os personagens, uma premissa e o começo. O que ela não tinha, infelizmente, era tempo”, explica ele mesmo na introdução do livro. Isso é fato. Siobhan Dowd morreu em 2007, quatro anos antes da obra chegar às livrarias.

“Talvez eu não fosse a escolha mais óbvia naquele momento, considerando que os livros de Siobhan costumam pender mais pro lado do realismo enquanto os meus são mais fantasia”, opinou Patrick, algum tempo depois, em entrevista para o Guardian. “Mas o que acredito que temos em comum é esta vontade de trabalhar a verdade emocional de nossos leitores, de querer que crianças e adolescentes sejam tratados como seres complexos”.

Ele deixa claro, no entanto, que jamais teria aceitado se não tivesse liberdade total para escrever do jeito que achasse melhor, apesar das sementes plantadas por Siobhan. “Eu não fiquei tentando imaginar como ela escreveria. Apenas segui o mesmo processo que ela, o que é algo muito diferente”. No fim, o autor descreve que sente que o resultado final é uma espécie de conversa particular entre ambos. “E, na maior parte do tempo, sou eu dizendo pra ela ‘veja só como a gente está seguindo aqui’. A história vem em primeiro lugar e é assim que você faz as suas próprias”.

Ness e Kay trabalharam juntos, mas à distância – tanto é que só se conheceram pessoalmente depois que a obra foi oficialmente publicada, em maio de 2011. “Mas tínhamos uma ideia compartilhada, por exemplo, de que as ilustrações não deveria ser só imagens inseridas entre as páginas, elas deveriam de fato interagir com o texto. E Jim fez isso de maneira maravilhosa”, explicou Patrick. “Tem uma ilustração no livro, por exemplo, que se estica por nove páginas e em um certo ponto cria a forma de uma casa ao redor do texto”.

A química funcionou tão bem que a dupla ganhou as medalhas Carnegie e Greenaway, por roteiro e ilustração, na prestigiada premiação anual da CILIP (Chartered Institute of Library and Information Professionals), sendo considerado o melhor livro infantil do Reino Unido naquele ano. Além disso, a vitória dupla nunca tinha acontecido antes, desde que a premiação para ilustradores foi estabelecida, 50 anos antes.

Apostando pesado no potencial do filme, a Focus Features se comprometeu com polpudos US$ 20 milhões para poder lançar em território americano a produção financiada em conjunto pela River Road Entertainment e pela Participant Media. Na Espanha, país que co-produz o filme, o lançamento será pelas mãos da Universal Pictures International.

Quando foi lançado aqui pela Editora Ática, A Monster Calls foi traduzido como O Chamado do Monstro, a tradução 100% literal da coisa. Mas a distribuidora nacional do filme, Diamond Films, parece ter optado pela versão portuguesa do título, Sete Minutos Depois da Meia-Noite (embora tenham lançado uma primeira versão do trailer 1 com “após” no lugar de “depois”) e que, sim, tem relação direta com a trama, já que este é o horário em que o monstro costuma chegar pra encontrar com o garoto.

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