segunda-feira, 11 de julho de 2016

The Night Of é a arma secreta da HBO para 2016



Muito tem sido dito sobre o "problema de drama" que a HBO está vivendo no momento, especialmente depois da 2ª segunda temporada morna de True Detective e do cancelamento da renovação de Vinyl. Quando The Leftovers terminar, o canal que um dia exibiu Família Soprano e The Wire não vai ter um drama regular. Claro que ainda vão existir coisas como Game of Thrones, mas a HBO sempre foi conhecida por ser o canal dos grandes seriados dramáticos. Nos últimos anos, com a ascenção de AMC, FX e outros, isso tem mudado. 

E então chega The Night Of, uma minissérie produzida por James Gandolfini, que recebe crédito póstumo como produtor executivo, e que é claramente filha das séries de crime que dominaram a programação da HBO nos anos 2000. Assim como True Detective em sua primeira temporada, The Night Of impressiona por sua qualidade narrativa, de direção, fotografia e atuação. Em outras palavras, é um pacote completo. A história, por sua natureza, instiga conversa, discussões e teorias, e o episódio de estreia, com sua 1h20 de duração, é um dos grandes suspenses da televisão este ano. 

A noite em questão começa quando Nasir "Naz" Khan (Riz Ahmed), um americano descendente do Paquistão, decide pegar emprestado - sem avisar - o taxi do pai para ir numa festa depois um colega acaba furando com ele. Naz não está nem um pouco familiar com a vida de taxista, e nem sabe ligar a luz de off duty. Como resultado, pessoas acabam entrando no veículo e ele é forçado a chutá-las pra fora do carro. Exceto quando a jovem atraente Andrea (Sofia Black D'Elia) pede carona. Naz não consegue negar e acaba fazendo o que ela pede. Ele vai num super mercado comprar cerveja, para junto de um rio para olhar a cidade e eventualmente vai para casa dela. Depois de algumas brincadeiras estranhas e, claro, drogas, as coisas dão absurdamente errado. 

No momento em que a garota entra no carro, fica claro que as coisas estão caminhando para um problema. A câmera mostra de forma sutil - e, de vez em quando, de forma clara - como Naz está basicamente cavando sua própria cova com algumas atitudes que ele toma durante a noite. Mas The Night Of não deixa passar a imagem de que Naz é um idiota, o que faria a audiência criar uma barreira com ele. Grande parte disso vem das atuações. D'Ella atua perfeitamente como aquela garota problemática que puxa você de forma inexplicável, e Ahmed, assim como no excelente O Abutre, mostra um grande carisma em suas cenas.

A série nunca retrata o protagonista como alguém totalmente desligado, mas ele esteve no lugar errado, na noite errada, com a pessoa errada. Inclusive, a construção da história é feita de uma forma brilhante. Quando Naz acorda e vê o corpo morto, brutalmente esfaqueado, da garota, nós não estamos surpreso, mas não é isso que os co-criadores Richard Price (The Wire) e Steve Zaillian (Gangues de Nova York) querem fazer. A tensão vem justamente porque Naz é um ótimo personagem que automaticamente nos conquista com seu charme e jeito meio atrapalhado, e quando nós percebemos que ele está cegamente caminhando em gelo fino, a respiração trava. 

Não vamos entrar em cada detalhe da história do piloto, que se passa inteiramente na noite da morte, mas a polícia eventualmente aponta Naz como suspeito depois de um acontecimento que mostra o espetacular senso de humor pertubado e quase canalha da série. Nesse processo, conhecemos outras figuras importantes, como o detetive Dennis Box (interpretado de forma sutil e perfeita por Bill Camp) e, finalmente Jack Stone (John Turturro). Stone é um advogado daqueles que ganha a vida com presos da madrugada que cometeram crimes idiotas e foram parar na delegacia.

O papel, originalmente, era de Gandolfini, e é impossível não imaginar o que Tony Soprano faria aqui, mas Turturro, em seus poucos momentos no primeiro episódio, faz um excelente trabalho e cria, junto com o roteiro, um peso tremendo para o advogado, que poderia, tranquilamente, ser o protagonista de The Night Of - algo que pode muito bem se tornar realidade nos próximos episódios, quando o foco se torna o processo de julgamento de Naz, e Stone passa a ser uma figura importante no meio de toda a tempestade legal nos tribunais e na cadeia. 

Finalmente, precisamos falar da fotografia brilhante de Robert Elswit. O homem responsável por filmar O Abutre e Sangue Negro - filme pelo qual ele venceu seu único Oscar até agora - captura a noite nova-iorquina de maneira visceral. Você pode sentir a textura e o cheiro da cidade, sua opressão, seu brilho e sua sujeira, em cada cena. 

The Night Of começou muito bem. O primeiro episódio vai ao ar na HBO neste domingo (10) e a série segue semanalmente depois disso. Por mais que ela tenha sido jogada como uma produção cuja principal função é preparar o terreno entre Game of Thrones e Westworld, não vai ser surpresa se ela tomar à frente como uma das principais forças do canal em 2016.

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